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24.9.10

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Dieter era guarda prisional numa cadeia para mulheres. Era porque já não é. Dieter também era ateu e acreditava que não voltava a ser. Honremos-lhe como tal a crença. Quando estas linhas se escrevem, portanto, Dieter já era. Mas antes de não ser, Dieter era guarda prisional numa cadeia para mulheres nos arredores de Frankfurt. Nesta noite de Setembro, dois anos antes destas linhas, um ano antes de morrer, Dieter respondia furiosamente a um comentário a um artigo do Spiegel online que noticiava a morte de soldados alemães no Afeganistão. Dieter, então com 35 anos, vivia sozinho e passava as noites em frente ao computador, quando não estava de turno ou quando não era dia de futebol de salão com os camaradas do corpo prisional. Tinha por companhia doméstica 157 amigos no Facebook, dois rotweillers e três carpas vermelhas num tanque no quintal das traseiras da sua casa geminada. Antes de ser guarda prisional, Dieter fôra polícia militar do exército e, à sua maneira, era um patriota. Não era um fanático da nação, gostava de viajar na rede e fora dela, cultivava uma postura cosmopolita, tinha-se como moderado, homem tolerante, amante da liberdade e dos valores democráticos, mas nutria um especial orgulho na circunstância de ser alemão e no facto de ter sido soldado. Acabou de responder ao imbecil que se congratulava com as baixas da Deutsches Heer na terra dos talibãs e acendeu um charro de erva. Olhou pela janela e começou a pensar em sexo.