Começou aqui. E continua aqui: #2 #3 #4 #5 #6 #7 #8 #9 #10 #11 #12 #13 #14 #15 #16

20.12.10

# 14

Quando Kate soube da morte de James forçou a reacção de espanto. No mundo onde viviam não havia lugar para intuições ou premonições. “A nossa arte é da ordem da ciência”, disseram-lhe vezes sem conta. A ausência de reacção teria por isso uma leitura suspeita, tinha pois de disfarçar sofrimento para que a continuassem a considerar apta e de confiança. Que Kate e James eram mais do que colegas todos sabiam, e era por isso que estariam muito atentos ao que ela fizesse neste momento: estava numa zona cinzenta. O que, na altura em que a tarefa dupla que tinha a desempenhar se aproximava rápida e finalmente de uma conclusão, não era aconselhável. Qualquer falha poderia afastá-la daquilo que agora a movia: sobreviver. Não tinha começado por ser assim, mas… Esperava que James não tivesse percebido que o que lhe acontecera tinha sido por causa do que ela lhe dissera a mais. Quando falara no sírio desmascarara um conhecimento que não podia ter sem estar envolvida. A decisão de abater James antes de ser contactado por esse tal sírio foi tomada poucas horas após a sua indiscrição. E a sua morte esperara cinco longos meses. Quanto tempo iriam demorar a matá-la era o pensamento diário que a lançava numa permanente planificação da fuga. Mas subitamente descobriu-se a chorar, a força do hábito de aguardar aquela notícia afinal não só não diminuía a dor como a aumentava. E não era a preocupação consigo mesma, era a memória de James que preenchera o vazio que julgava ter conseguido criar.